Campanha pelo fim do mesmo !

Vamos parar com essa história de usar “o mesmo” ou “a mesma” quando não convém. Já tínhamos colocado um post aqui no blog alertando sobre esse uso incorreto (veja aqui). Hoje temos o prazer de postar a coluna do sempre excelente prof. Pasquale, publicada no jornal Folha de S. Paulo:
PASQUALE CIPRO NETO
 

“Eu tenho medo do Mesmo”


Diz o “Aurélio’: “Parece conveniente evitar o emprego de o mesmo como equivalente do pronome ele ou o”


EM SEU ÚLTIMO VESTIBULAR, a Unicamp elaborou uma questão sobre uma conhecida frase que se lê nos elevadores (“Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”).Confesso que nunca entendi bem a existência de uma lei que determina ao cidadão que verifique se o elevador lá está antes de nele entrar. Fica-se com a impressão de que a causa de um eventual acidente é a desobediência à lei. Francamente…Essa “lei” e sobretudo a sua enfadonha redação (de que faz parte o chatinho emprego de “o mesmo”) levaram internautas a criar a comunidade “Eu tenho medo do Mesmo” (assim mesmo, com maiúscula). Bem-humorada, a comunidade brinca com o termo “mesmo”, que se transforma num ser vivo (um fantasma, um maníaco ou algo assim). Essa transformação se dá com o emprego da inicial maiúscula, que aparece também na frase “Mesmo, o maníaco dos elevadores”, usada pelos integrantes dessa comunidade.No texto original da lei, a expressão “o mesmo” recupera “o elevador”. Esse uso de “o mesmo” (como elemento que substitui, recupera) não encontra abono nos dicionários recentes, como o “Houaiss” e o “Aulete” (eletrônico), mas aparece com razoável frequência na língua falada, sobretudo quando a linguagem é semiformal ou formal, e em muitos escritos -recentes ou mais antigos.O “Dicionário Priberam da Língua Portuguesa” (de Portugal) registra sem rodeios a palavra “mesmo” com o sentido de “coisa ou pessoa que já foi mencionada anteriormente”. O exemplo do dicionário é este: “Eu fiz a tarefa, mas a mesma não ficou perfeita”. Numa de suas edições, o “Aurélio” diz o seguinte: “Parece conveniente evitar o emprego de o mesmo como equivalente do pronome ele ou o”. E conclui: “É tão frequente esse uso, pelo menos deselegante, de o mesmo, que podemos observá-lo num mestre como Camilo Castelo Branco”. Depois, o “Aurélio” dá exemplos desse uso.Cá entre nós, esse emprego parece mesmo um tanto deselegante e até um pouco chatinho, mas… Bem, você decide, caro leitor, o que fazer com esse uso de “o/a mesmo/a”.Pois bem, voltemos à questão da Unicamp, que pedia ao candidato que explicasse “o que torna possível o jogo de palavras “Mesmo, o maníaco dos elevadores”, usado pelos membros dessa comunidade”. Ora, na verdade não se deveria perguntar o que torna possível o jogo de palavras, já que na frase do elevador a palavra “mesmo” é escrita com inicial minúscula. O que se deveria perguntar é que recurso a comunidade empregou para criar a brincadeira, zombaria ou algo do gênero.Como parece claro, a brincadeira decorre do emprego, no nome da comunidade, da palavra “mesmo” com inicial maiúscula, que a transforma num substantivo próprio, que nomeia um indivíduo “fascinado” por elevadores e seus ocupantes…Deve-se notar a presença da vírgula em “Mesmo, o maníaco dos elevadores”. Essa vírgula deixa claro o papel da expressão “o maníaco dos elevadores”. Não fora ela…Na questão da Unicamp há um segundo item, que pede ao aluno que reescreva o aviso “de forma que essa leitura não seja mais possível”. O enunciado não é dos mais felizes. Em vez de “de forma que essa leitura não seja mais possível”, caberia “de forma que essa brincadeira não seja…”. Forçando a barra, a banca achou um jeito de pedir ao candidato que reescrevesse a pífia frase do elevador sem o chato “o mesmo”. As possibilidades são muitas. Uma delas é esta: “Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar”. Sim, ele (o elevador), por que não? É isso.

inculta@uol.com.br

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