Vírgula, para que te quero?
Posto isso, quero voltar ao aposto que não é separado por vírgula do termo a que se liga. Em casos como “O professor João disse…” ou “O rio Tietê nasce em…”, os termos “João” e “Tietê”, que nomeiam e restringem, respectivamente, “professor” e “rio”, funcionam como aposto.A ausência de vírgula nos dois casos se deve justamente ao fato de que “João” e “Tietê” restringem os termos a que se ligam (há inúmeros professores e rios no universo).Talvez seja bom detalhar o que é restringir. Vejam-se estes exemplos: “O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o novo mínimo…”; “O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega disse que o novo mínimo…”.
Nos trechos vistos, “Guido Mantega” e “Maílson da Nóbrega” têm a função de aposto de “ministro da Fazenda” e de “ex-ministro da Fazenda”, respectivamente, já que identificam esses termos. Por que só se empregaram as vírgulas (duas) no primeiro caso?Vamos lá: só há um ministro da Fazenda; ex-ministros da Fazenda há muitos e muitos. Tradução: “Maílson da Nóbrega” restringe o universo de ex-ministros da Fazenda, por isso não vem separado por vírgulas. O processo é o mesmo que ocorre, por exemplo, em “O professor João disse…”, “A presidente Dilma foi…”, “O poeta Murilo Mendes viveu…” etc. Não custa lembrar que “João”, “Dilma” e “Murilo Mendes” têm função de aposto restritivo, especificador, de “professor”, “presidente” e “poeta”, respectivamente.
No trecho relativo ao atual ministro da Fazenda, empregam-se as vírgulas porque “Guido Mantega” não é termo restritivo; é explicativo.O processo é o mesmo que ocorre, por exemplo, em “Ontem, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que…” ou “O autor da letra de “Travessia”, Fernando Brant, afirmou que…”. Os termos “Sérgio Cabral” e “Fernando Brant” têm função de aposto (explicativo).Talvez a esta altura já esteja claro por que não há vírgulas em “O governador Sérgio Cabral disse…”, mas há em “O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse…”. Governadores há muitos; governador do Rio de Janeiro só há um.
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Texto publicado no jornal Folha de S. Paulo, no dia 20 de janeiro de 2011, p. C2.